Freedom Writers
Eu lembro quando eu assisti esse filme pela primeira vez, não me recordo ao certo se foi na escola – pois não sei se ainda é assim, mas antigamente, as vezes, os professores em certos momentos da aula, levavam-nos para uma sala diferente para assistirmos filmes e depois falar sobre – ou se foi na TV aberta, em algum programa noturno famoso aqui no Brasil. Mas me recordo de estar conhecendo um tipo de história dramática, que de certa forma era algo novo para mim. Eu sempre estudei em escolas públicas, nas quais todos nós que estudávamos, sabíamos bem, os problemas das mesmas e situações comuns no dia a dia. No entanto em “Freedom Writers”, ou “Escritores da Liberdade”, como foi traduzido para o português do Brasil, lançado em 2007, baseado em um livro best-seller, que conta uma história real, é uma situação de escola pública, bem longe do que eu já presenciei – ou tinha presenciado até então.
A história se passa na virada do século, contando a primeiro momento a história de uma jovem e simples professora chamada Erin Gruwel, ela é designada a essa turma de alunos “desajustados” aos olhos dos responsáveis pela escola e outras classes (sociais e de ensino). No entanto, ela que sempre deu aulas a alunos de um certo padrão, de comportamento, social e racial, agora se vê diante de uma situação totalmente nova: conseguir preparar, ensinar, e mais importante, conseguir dar voz a alunos corrompidos pela violência de gangues, violência dentro de casa, que sofrem preconceitos, abusados psicologicamente, rebeldes, vítimas de tiroteios e que parecem “casos perdidos”. Ao longo do filme, ela tenta de várias formas chegar até eles e entender os alunos, que na maioria das vezes tratam ela com rejeição, por terem realidades distintas.
Em um momento da história, para tentar “se enturmar” e ensiná-los de uma forma nova, ela até faz uma pergunta que chama a atenção deles, que é a seguinte: “quem de vocês aqui é filiado a alguma gangue?”, o que é até engraçado, pois ali ela sabia – e uma das alunas até repreende ela – que não era permitido ser filiado a nenhuma gangue para estudar na escola. E então a gente percebe que é mais uma inocência a primeiro momento, sobre um mundo totalmente desconhecido para ela, do que uma ignorância baseada em estereótipos. Que é o que geralmente acontece, em situações que uma pessoa com uma realidade totalmente diferente, entra em um local, com ideias, conceitos, motivações, pensamentos, ações, totalmente diferentes do que elas já presenciaram.
A forma que a professora Erin se dispõe a ensiná-los, tendo como reflexo negativo até no seu casamento, por deixar em segundo plano para ensinar os alunos, é admirável. Em meio a isso, ela tem uma ideia brilhante, fazer com que os alunos escrevam diários sobre seu dia a dia difícil fora da escola, e é aí que o filme começa, o drama, as histórias de cada aluno, é algo muito emocionante. Eu fico emocionado só de lembrar enquanto eu escrevo.
E o porquê eu acho que todo jovem deveria assistir esse filme?
Em Freedom Writers, a gente acompanha jovens com problemas familiares, relacionamentos tensos, vivencias e decisões em meio ao caos e violência, tendo que fazer escolhas que muitas vezes parecem impossíveis, que parecem que não tem outra saída, que parecem que, a única opção são caminhos “fáceis”, mas que muitas vezes levam a tragédias e problemas ainda maiores. Jovens que se sentem sufocados, que muitas vezes não tem voz, não tem com quem desabafar, que se sentem presos a situações que parecem impossíveis de sair. Mas em meio a tudo isso, eles acham uma solução, eles conseguem enxergar um caminho que pela primeira vez, podem respirar, um caminho que os permite mostrar ao mundo, que eles são muito mais do que aquilo que as pessoas os julgam, e ainda, mostrar a todos nós que, independentemente do quão difícil algo parece ser, se você se esforçar, de várias formas, e com ajuda, é possível achar uma solução se quisermos.
Freedom Writers (2007) / Dirigido por Richard LaGravenes
Spijt!
Assim como o Freedom Writers que está nessa lista, eu não consigo me recordar ao certo em qual momento eu conheci a essa obra. Assim como ele também, esse título também se passa em um ambiente escolar, porém com uma abordagem um pouco diferente, tratando de um assunto que culturalmente na humanidade, infelizmente, sempre foi tratado como algo natural, e que todos os jovens acabam passando – muitas vezes aceitado que todos devemos passar por isso pra aprender como a vida funciona – o que discordo totalmente. É normal sim, principalmente em situações do cotidiano escolar, os jovens fazerem brincadeiras, tirarem sarro um dos outros, de forma a que todos vão rir, e continuar amigos…. Porém, não é o caso que acontece em Spijt!, ou “Um Grito de Socorro”, como foi traduzido para o português do Brasil, um filme neerlandês lançado em 2013, baseado no livro do escritor Carry Slee, onde o foco principal é, até onde um adolescente que sofre bulliyng pesado, abusos físicos e psicológicos, nas mãos de quase toda uma escola, pode chegar?! Esse é aquele tipo de filme que definitivamente não é para qualquer pessoa, pois ele trata esse tema de uma forma densa, pesada, a atmosfera crua e que a todo tempo, é sufocante, mostrando cenas tristes e dramáticas. Enquanto eu escrevo esse texto, meus olhos se enchem de lágrimas apenas por lembrar de cenas específicas dessa obra.
A história de Spijt! acontece em uma pequena cidade dos países baixos, aos arredores da Holanda, se não estou enganado (busque por fontes), aquele tipo de cidade pacata, onde todos se conhecem, mas tendo o tamanho suficiente para acontecerem coisas sem que outros saibam. Acompanhamos a história do garoto Jochem, um simples estudante de uma escola local, que não faz nada a mais que sua rotina, porém, apenas por existir e ser quem ele é, isso serve de alvo para que ele sofra diariamente com a violência física e psicológica de seus colegas. Jochem é aquele típico menino que está sempre na dele, não quer fazer mal a ninguém, faz suas tarefas diárias, porém a cada passo, ele é perseguido mais e mais por jovens da idade dele, que aos olhos dos demais, são dentro do padrão, estético e de comportamento, mas que ao longo da história, descobrimos que as coisas são um pouco diferentes. Alguns alunos, até tentam se aproximar de Jochem, por enxergarem que, as vezes, os seus amigos, aos olhos deles, passam dos limites. Ao mesmo tempo que outros alunos, não o machucam, mas também fingem não acontecer tais abusos, o que também os faz culpados de certa forma no contexto geral da história.
Esse filme me marcou bastante, por diversas cenas, por diversos diálogos, a sensação de desespero a cada minuto, onde a gente quase sente a angústia que o Jochem sofre diariamente. Ao longo que a história é contada, tem um ponto ápice que algo acontece, que pra mim talvez seja o momento mais pesado do filme, o momento que a gente se pergunta, porque esse tipo de coisa acontece no mundo, momento que a gente se pergunta se teria como ser diferente, momento que a gente sente o peso do silêncio no olhar de todos.
Dentre muitos outros momentos, esse é um dos que esse filme se destaca, pois esse ápice, não acontece no final, mas sim no final da primeira metade, o que é ainda mais angustiante, pois a gente fica se questionando, “o que vai acontecer depois daqui?”… Esse filme é extremamente reflexivo, principalmente depois dessa primeira metade, pois no início a gente sente e fica atento a “ação”, dos atos de cada um, porém depois, fica apenas a tristeza e torcendo pra que de certa forma, algo bom aconteça, pois o filme nos da indícios de esperança, mesmo que pessoalmente, pra mim, tenha faltado algo e parece não ter sido o suficiente.
E o porquê eu acho que todo jovem deveria assistir esse filme?
(ALERTA)
Como eu havia mencionado no início desse texto, Spijt! é uma obra que não é para o grande público, pois ele trata de temas sensíveis, de uma forma bem crua, mostrando a realidade na nossa frente, então se você é frágil a esse tipo de história, eu recomendo passar para o próximo da lista.
Para aqueles que gostariam de conhecer essa incrível história, eu acho que é um excelente filme, principalmente para vocês que são jovens, e ainda estão no convívio de colegas na escola ou faculdade. Em Spijt!, tanto durante quanto após o filme, vem muitas perguntas, questionamentos pessoais, questionamentos de formas de que fazemos as coisas, formas de que agimos com o próximo, etc… No entanto, o mais forte é, por que a gente só resolve agir de certa forma, depois que algo acontece?! E por que não evitamos antes?! Eu acho esse filme extremamente importante pra discutirmos o que os jovens irão se tornar no futuro, pois o ambiente escolar, é algo que nos molda de certa forma, em como a gente vai tratar muitas vezes as pessoas na vida adulta – ainda que não suficiente, pois a educação em casa é tão importante quanto – eu acho que as perguntas que todos nós deveríamos nos fazer nesse caso é, quem eu quero me tornar mediante aos olhos dos outros?! Isso que eu estou fazendo agora, é o suficiente pra que algo ruim não aconteça lá na frente?! Eu deixei de fazer algo que deveria, e isso causou um estrago maior?! Eu estou fazendo as coisas da forma certa na ótica de dever do ser humano?! Eu podia ter feito diferente?! Em resumo, você que é jovem, tome muito cuidado com suas ações, a quem você se dirige e como você faz isso, gentileza e bondade nunca é demais no âmbito do bom senso. Vocês pais de jovens, prestem muita atenção em como a vida de seus filhos vai, pois um olhar desatento muitas vezes, pode ser fatal, e você sim poderia ter feito diferente nesse caso.
Spijt! (2013) / Dirigido por Dave Schram
Suburbia
Sinopse: Um grupo de adolescentes suburbanos tenta apoiar uns aos outros através da difícil tarefa de se tornarem adultos.
Suburbia (1996) / Dirigido por Richard Linklater
